terça-feira, janeiro 08, 2013

Grandes Mestres da Táctica (8)... Albert Batteux

Se existe país onde o futebol demorou a criar raízes, esse país foi a França. Nação aristocrata, repleta de glamour, apaixonada pelas artes, a França olhou - durante várias décadas - com indiferença, e algum desprezo, porque não dizê-lo, o futebol, modalidade tão popular noutros pontos do globo. As primeiras aparições galuesas nas grandes competições internacionais - o mesmo será dizer os Jogos Olímpicos de 1908, 1920, 1924, e 1928, bem como as três primeiras edições do Campeonato do Mundo (1930, 1934, e 1938) - passaram completamente ao lado de um povo mais interessado em (re)descobrir a genialidade de Van Gogh, Da Vinci, Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, entre muitos outros artistas - de áreas como a pintura, escultura, música, cinema, ou literatura, por exemplo - cuja obra se cruzou com os caminhos culturais de La belle France

Foi preciso esperar até finais da década de 50 para ver o futebol despertar nos franceses uma ponta de curiosidade e ao mesmo tempo de fascínio! Tudo graças ao homem que hoje vamos recordar, Albert Batteux, a ilustre figura considerada como o pai do futebol francês! O homem que lançou as sementes das gerações vencedoras do futebol gaulês, de Platini a Zidane, o criador de um estilo de jogo tecnicamente elegante eternizado como... o futebol champagne
Enquanto jogador o Napoleão do futebol francês foi um médio de grande recorte técnico, fiel ao clube da cidade que o viu nascer a 9 de julho de 1919, Reims. Batteux envergou pela primeira vez a camisola da equipa principal do seu Stade Reims em 1937, não mais a despindo até 1952, altura em que finalmente cedeu às pressões do então presidente do clube, Henri Germain, para pendurar as chuteiras e assumir o comando técnico do pequeno clube que até então tinha nas suas vitrinas apenas um campeonato nacional (48/49) e uma Taça de França (49/50), simultaneamente os dois únicos títulos que Albert Batteux conquistou ao longo da sua carreira de futebolista. 

Germain carregava consigo o sonho de fazer do Stade Reims o maior clube de França, e quiçá da Europa, não se poupando a esforços monetários para concretizar essa ambição. Depois de convencer Batteux a assumir o comando técnico da equipa principal contratou um jovem de 19 anos, de origem polaca, chamado Raymond Kopaszwski, mais tarde rebatizado como Raymond Kopa! A dupla Batteux-Kopa haveria de revolucionar por completo o conceito de futebol em França nos anos seguintes. O Reims passou efetivamente a dominar a modalidade em terras gaulesas, somando títulos, e mais do que isso implantando a identidade futebolística que França até então não possuía. Batteux foi o criador dessa identidade. Profundo conhecedor dos vários estilos de jogo que vagueavam pelo planeta da bola o agora treinador defendia que todos os países tinham o seu ADN futebolístico, derivado das carecterísticas do seu povo, da sua cultura, e o da França tinha de ser definitivamente um estilo de jogo cheio de glamour, assente num requintado futebol técnico e criativo. Estilo esse implantado primeiro no Stade Reims e posteriormente na seleção francesa, cujos destinos Batteux assumiu - em simultâneo com os do Reims - entre 1955 e 1962.

No clube o lendário treinador ficou até 1963, conquistando 6 campeonatos nacionais (1953, 1955, 1956, 1958, 1960, e 1962), uma Taça de França (1958), e a Taça Latina de 1953, que na altura era a competição internacional de clubes mais afamada da Velha Europa. O Stade Reims de Albert Batteux foi um dos poemas mais belos da história do futebol, e nem mesmo a saída do genial Kopa para o gigante continental Real Madrid, em 1956, retirou o glamour e a tremenda eficiência ao futebol praticado pelo clube durante uma década. Saiu Kopa mas continuavam lá outras obras de arte criadas por Batteux, tais como o defesa central Jonquet, o criativo médio interior esquerdo Piantoni, e o mortífero goleador Just Fontaine. Três nomes que junto de Kopa escreveriam uma das páginas mais deslumbrantes do futebol de França, em 1958, durante a fase final do Campeonato do Mundo da Suécia, o mesmo que lançou para a ribalta um jovem brasileiro de apenas 17 anos, chamado Pelé.

Orientada por Albert Batteux a seleção gaulesa encantaria o Mundo nos relvados suecos com o seu futebol champagne, e só não recebeu a coroa de rainha do planeta da bola, o mesmo é dizer, não se sagrou campeã mundial, porque teve o azar de encontrar pela frente - nas meias-finais desse épico torneio da FIFA - o mágico Brasil de Vavá, Zagallo, Nilton Santos, Garrincha, e do tal Pelé. A França ficou-se pelo 3º lugar, e o homem-golo gerado por Batteux, Just Fountaine, com o título de rei dos goleadores, com 13 remates certeiros (numa só fase final), recorde que ainda hoje perdura.
Albert Batteux deixou os destinos da seleção francesa em 1962, mas o seu reinado no futebol gaulês estava ainda muito longe de terminar. Um ano mais tarde coloca um ponto final no casamento com o seu Stade Reims, emblema que defendeu ao longo de 26 anos (15 como jogador, e 11 como treinador), iniciando posteriormente uma nova e memorável aventura ao serviço de outros clubes. Entre 63 e 67 orientou o Grenoble Foot 38, mas o seu talento iria dar frutos ao serviço do Saint-Ètienne, emblema que sob o seu comando venceu os títulos de campeão nacional em 68, 69, e 70, assim como as taças (de França) de 68 e 70. Depois de fazer história com os verts Batteux rumou ao Avignon, onde esteve apenas uma temporada (76/77), ao Nice (1979), e por fim ao Marselha, em 80/81, onde faria a despedida dos bancos.

Mais do que títulos Albert Batteux lançou como já vimos as sementes que viriam a transformar-se em apetitosos frutos nos anos 80 e 90, as sementes das gerações douradas de Platini (80), e Zidane (90).
O pai do futebol francês morreu 28 de fevereiro de 2003.

Legenda das fotografias:
1-Albert Batteux
2-Seleção francesa que encantou o planeta da bola no Mundial de 1958

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